Notícias sobre o tratamento biofarmacêutico (câncer de ovário, mama, pulmão, coloretal, esofágico, gástricos, leucemia, epiteliais).

Notícias

Notícias, artigos e atualização científica

Na dianteira do conhecimento.

30 de dezembro de 2009 Pesquisa e Desenvolvimento

Na dianteira do conhecimento.

Uma profusão de trabalhos científicos realizados dentro dos laboratórios brasileiros está inscrevendo o País no primeiro time da medicina mundial. Neste momento, por exemplo, há cientistas envolvidos em testes com novas moléculas contra o câncer, no desenvolvimento de terapias com células-tronco e outros empenhados em decifrar as associações genéticas que contribuem para o surgimento de doenças neurodegenerativas. Alguns bons exemplos de projetos podem ser vistos na área do câncer.


Neste ano, o Instituto do Câncer de São Paulo iniciará testes com substâncias promissoras ainda não experimentadas em humanos. Elas serão ministradas a portadores de tumores avançados e sem opções de tratamento. “São protocolos de pesquisa que requerem competência técnica e controle rigoroso no tratamento. E isso nós temos”, diz Paulo Hoff, diretor científico do instituto. Mais uma evidência da nossa credibilidade no setor é que muitos desses projetos de avaliação de drogas, que envolvem milhões de dólares, já são inteiramente desenhados por brasileiros.


“Antes, vinha tudo pronto de fora”, diz José Fernando Perez, criador da Recepta Biopharma – empresa de biotecnologia que atua em parceria com os setores público e privado no Brasil e entidades internacionais como o Instituto Ludwig, da Suíça. Nos próximos meses, a companhia conduzirá testes com quatro novas substâncias da classe dos anticorpos monoclonais – remédios desenvolvidos para eliminar apenas as células tumorais. Os efeitos de uma delas, a Rebmab 100, serão mensurados em 53 pacientes com câncer de ovário em estágio adiantado, atendidas em oito hospitais. Também será colocada à prova uma molécula da mesma família dessas terapias nascida nos laboratórios da Universidade de São Paulo e com ação sobre o glioblastoma, um tumor cerebral grave.


O entendimento da biologia dos tumores é outra área de expertise nacional. Trata-se de uma reputação que começou a ser construída há uma década, com a criação do Projeto Genoma do Câncer. Um de seus frutos foi a formação do segundo banco de tumores do mundo: amostras de todos os tipos da doença estão guardadas em vários centros de pesquisas brasileiros.


Elas servem de base para muitos estudos, entre eles a análise dos genes expressos em cada uma. “E acabamos de criar uma rede de troca de informações que inclui Colômbia, Cuba, Equador e Peru”, diz Carlos Gil, do Instituto Nacional do Câncer. A iniciativa amplia as possibilidades de avaliar tumores de diferentes populações. Talvez dessa comparação venha a explicação para o fato de o câncer de colo de útero das brasileiras aparecer em idade precoce, por volta dos 21 anos.


No Hospital A.C. Camargo, em São Paulo, a prioridade é descobrir o que torna mais ou menos agressivos tumores frequentes entre nós, como o de mama e o de intestino. É uma informação que salvará vidas no futuro. “Conseguimos R$ 10 milhões para levar adiante neste ano pesquisas sobre o tema”, diz Ricardo Brentani, presidente da instituição. A investigação de dados genéticos é também o caminho escolhido por um estudo do Instituto do Coração, em São Paulo, coordenado pelo pesquisador José Eduardo Krieger. Sua meta é identificar os genes ligados ao aparecimento de doenças cardiovasculares.


Na primeira etapa do trabalho, Krieger examinou 100 famílias da cidade mineira de Baependi. A partir dos dados obtidos, foi calculado o risco hereditário de cada uma para ter colesterol ou pressão arterial elevados. Neste mês, os voluntários da pesquisa serão submetidos a testes para avaliar se apresentam algum processo de formação de placas que podem levar ao entupimento das artérias e terão a pressão medida por 24 horas. Em seguida, as informações serão combinadas com o sequenciamento do DNA de cada um dos participantes. “Esperamos encontrar no código genético as áreas relacionadas à manifestação da pressão alta, por exemplo”, diz o cientista. “No final deste ano teremos as primeiras conclusões.”


No Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, especialistas usarão uma abordagem inovadora contra as doenças neurodegenerativas. Eles se concentrarão em partes do DNA que até agora não se sabe para que servem, o chamado DNA lixo, para estudar o desenvolvimento da doença de Alzheimer, mal que afeta o raciocínio e a memória. “Acreditamos que só podem estar nessas sequências as chaves que controlam o início e a progressão de muitos processos do organismo”, afirma Luiz Vicente Rizzo, diretor do IEP, que desenvolve a pesquisa em parceria com o Instituto Weizzman, de Israel. Participam do estudo 30 voluntários com idade entre 49 e 80 anos com casos na família ou que já apresentam sinais da doença de Alzheimer.


A varredura da fita de DNA de cada um deles será feita por um sequenciador recém-comprado pelo IEP por US$ 800 mil e capaz de analisar o DNA em 20 horas. Área crucial da medicina, as terapias com células-tronco tomam impulso no País com a formação de uma rede nacional de pesquisa. Por parte do governo, os recursos destinados neste ano a esse setor são de R$ 35 milhões, divididos entre oito laboratórios e 52 projetos de trabalho. Além disso, há os recursos as agências de fomento e secretarias estaduais. Um dos elos dessa corrente é o Centro de Biotecnologia e Terapia Celular, na Bahia. Ali, o pesquisador Ricardo Ribeiro dos Santos, da Fundação Oswaldo Cruz, fará testes para saber se o implante de células-tronco tiradas da medula óssea e do tecido adiposo é capaz de restaurar movimentos em pacientes que tiveram lesões na medula. Eles serão operados para receber cerca de 200 milhões de célulastronco no local afetado.


Em testes com animais, o experimento deu bons resultados. O controle urinário, por exemplo, melhorou bastante. “Se isso for reproduzido em humanos, já será um grande avanço”, diz Santos. Em outro braço dessa rede, na Universidade de São Paulo, a geneticista Lygia da Veiga Pereira está desenvolvendo linhagens brasileiras de células-tronco embrionárias – as que apresentam maior versatilidade para se transformar em qualquer tecido. “Elas serão uma contribuição inédita para o estudo do comportamento das células-tronco por causa da mistura genética de africanos, índios e europeus que caracteriza o brasileiro”, diz Lygia.


Na Universidade Federal do Rio de Janeiro, o cientista Stevens Rehen observa o que se passa durante a transformação das células embrionárias em neurônios. “O estudo desse processo pode ser um caminho para desvendar as origens de enfermidades que afetam o cérebro”, diz Rehen. O lamentável é que, ao mesmo tempo que registra avanços em todas essas frentes, a medicina brasileira ainda precisa encontrar soluções para problemas graves como a epidemia de dengue e o difícil acesso ao sistema de saúde.



Fonte: Revista Isto É. "Na dianteira do conhecimento". Por Mônica Tarantino. https://bit.ly/2Iwr5H0

Compartilhe este post

Top